Descrição
JOÃO MANOEL DA SILVA NASCEU 3-12-37 NO ESTADO DE ALAGOAS SANTANA, anuncia uma talha feita pelo artista que esteve pendurada dentro do seu “museu” por décadas até a sua morte.
De família pobre com muitos irmãos, acompanhou milhões de brasileiros e buscou, desde muito jovem, condições melhores no centro-sul do país. Trabalhou com familiares em lavouras de café no Paraná e retornou poucas vezes à terra natal, onde deixara seus pais e alguns irmãos. Em uma das ocasiões resolveu buscar caminho no mais distante lugar do Brasil: o final do Mato Grosso (atualmente Mato Grosso do Sul). Tão distante de casa chegava à cidade de Corumbá, conhecida como a “capital” do Pantanal e, segundo ele, “onde o Brasil acaba”, à beira do rio Paraguai na fronteira com a Bolívia.
Depois de trabalhar em fazendas em atividades diversas, já casado com Aparecida, moça prendada, filha de um boiadeiro de Coxim, estabeleceu-se em Campo Grande, cidade pujante que viria a ser capital do novo estado, Mato Grosso do Sul. No local, comprou um terreno em uma área distante do centro, onde só haviam plantações de arroz. Construiu um barraco para morar, com um fogão a lenha e cercada de pau-a-pique. Com o tempo, construiu uma casa nova ao lado, o asfalto chegou, alguns dos confortos da cidade… porém, a tônica rural o acompanhou: sempre plantou frutas, verduras e legumes para o sustento, a água de beber vinha do poço e a das plantas, armazenada da chuva. Ali, junto a família, o alagoano viveu até o final da vida.
Chegando na cidade, João redescobre a madeira e, aos poucos, nas longas noites de solidão, viu seu interesse pela madeira reaparecer.
Quando criança, criava boizinhos de galhos de árvores e outros brinquedos com as ferramentas desassistidas do pai. Manezinho era um carpinteiro habilidoso, fazia cabeças de promessa (ex-votos) para romeiros que iam a Juazeiro do Norte-Ceará levarem em devoção ao padre Cícero.
João, autodidata, sempre se recordava que o pai dizia: “ninguém me ensinou, então você também vai ter de aprender sozinho”. Adulto, recomeçou fazendo pequenas figas de madeira que presenteava aos amigos como amuletos. Logo diversificou o repertório.
Nesta época, apesar de dizer que não tinha ideia para “fazer gente”, o artista fez autorretratos: esculturas marcadas por recortes e ângulos agudos, as vezes, encimadas por uma boina, como a que orgulhosamente carregava durante o expediente de trabalho. Pelo seu relato, essas obras em nada são parecidas com os retratos realistas feitos pelo pai.
Chegou a criar esculturas em pontas de chifre, mas na madeira encontrava melhor caminho. Não demorou até que começasse a esculpir outros elementos de seu passado e do cotidiano. Seu trabalho, junto aos esforços de sua senhora, Aparecida, permitiram que, depois de anos, pudesse transformar o barraco onde morava no que chamava de museu. Ali, em um pequeno cômodo, escorado por uma viga de aroeira, guardava parte de sua coleção particular com suas próprias obras, algumas poucas de outros artistas do estado, além de ferramentas diversas e inúmeras lembranças do passado. Mostrando alguns machados antigos de quando ainda fazia derrubadas no pantanal e, ciente de que na vida ora se erra, ora se acerta, discorreu: “A gente guarda uma lembrança como quem guarda um retrato de alguém querido. Esses machados são de quando a gente via vantagem em derrubar árvore.”
Texto extraído do ensaio João Manoel da Silva: verticalidade é afirmação por Edmar Pinto Costa, publicitário, pesquisador independente e colecionador de arte brasileira.
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